19/12/2009

Assistindo Sideways na tv

A galáxia se orienta ao redor de um eixo gravitacional. O mesmo é reproduzido no nosso sistema. Ao redor do sol a Terra, e demais planetas, se orienta. Digo baseado em meu limitado conhecimento sobre física.
É essa a regra natural. E minha analogia é a seguinte: gravidade = média.
Logo... Sendo a tendência natural das coisas girar em torno da média, é natural que tudo fora disso seja considerado um mero disturbio e descartado como um erro padrão.
É nesse limiar, nessa margem (limiar marginal), que se encontra a poesia. Pelo menos segundo o pequeno grande Manuel de Barros. Quem disse algo como:
"Poesia é coisa de criança, de bêbado ou louco".
É nesse curto espaço marginal que se encontra a genuina humanidade. Essa ilógica tendência de buscar o belo ao invés do prático.

12/12/2009


"Provar o Vega Sicilia não é degustar é comungar"

Marcelo Copello, editor da Adega


Obs: foto obtida na internet

07/12/2009

Coisas pra se fazer antes de morrer

Tem um enredo clichê de animações e filmes de sessão da tarde, que consiste em o personagem descobrir que lhe faltam umas poucas horas de vida. Então ele resolve fazer as coisas que sempre achou que deveria fazer, mas estava cego demais pela rotina para faze-las. E parte em jornada contra o tempo para plantar uma árvore, dizer ao velho pai que o ama, e por aí afora.
Eu acho que se recebesse a tal notícia eu estaria onde/como estou agora. Já que de cara sei que teria problemas em cumprir uma lista dessas, que estaria encabeçada por beber um Romanée-Conti, safra a decidir, mas anterior à década de 1990. Seria inútil pensar nas coisas que gostaria de fazer antes de morrer, antes pensaria nas que eu poderia fazer. Entre elas, fazer porra nenhuma.
Apesar de tudo, apesar d'as vezes a vida parecer um lugar miserável. Temos sempre a infalibilidade da morte pra nos consolar. Ela nos dá a desculpa pra cometermos uma ou outra "loucura". A sua aleatória possibilidade é um motivo racional para não levarmos a sério o "mundo adulto".
Acho que essa idéia é a área de interseção entre um Omar Khayyam traduzido por FitzGerald e um Khayyam terci-traduzido por Bandeira.

SEGUNDOS DE SABEDORIA:

"Amigo não faças plano
Para amanhã. Sabes lá
Se poderás terminar
A frase que vais dizer?

Talvéz bem longe amanhã
Estejamos deste albergue,
Já iguais aos que faleceram
Há mais de sete mil anos."

05/12/2009

Atirem no Dramaturgo


E não é que atiraram mesmo? Eu não sou muito ligado em teatro, nunca fui. Por isso não conheço a obra de Mario Bortolotto. A primeira vez que ouvi falar dele foi num programa de entrevistas que tinha no Canal 21, com Lobão, Marcelo Tás e uma gostosa gaucha (pelo menos na época era gostosa). Acho que foi a única vez que assisti a esse programa. Eu simpatizei de cara com a figura do sr. Bortolotto. Que concedeu a entrevista usando óculos escuro e segurando a taça (nas entrevistas a turma servia vinho ao convidado, lembrei, saca-rolhas o nome do programa!) de vinho tinto pelo bojo.
Lembro que em dado momento ele falou da dica saudável dos médicos em relação ao vinho, ele até seguia, mas no lugar de duas a três taças de vinho ao dia ele bebia de duas a três garrafas. Uma figura interessante o cara. É só dar uma passada no blog dele (http://atirenodramaturgo.zip.net/) pra sacar seu estilo de Bukowiski da dramaturgia nacional.
Ele foi baleado durante uma tentativa de assalto a um bar, espécie de QG da turma do teatro. Aliás o bar é anexo ao teatro, onde havia sido encenada a peça mais recente do autor, Brutal.
A história recente do centro de São Paulo vem sendo associada ao termo Cracolândia. Designa uma Zona onde todo tipo de degradação humana, roubos, estupros, assassinatos, etc., existe como que em louvor ao Crack. A ladainha já vem de uns vinte anos, creio. A televisão mostra em horário nobre a movimentada vida na cracolândia. Oh, chocante!! Polícia vem e faz mega operação em conjunto com a prefeitura e acaba com a cracolândia. Acaba? Acaba nada, ela só muda de endereço, mas sempre ali no centro.
Agora a prefeitura lançou o jargão "revitalização do centro de São Paulo", que até o "homem do vinho" cita muito em seu espaço publicitário na Rede TV. Isso é conversa fiada, é só mais um elemento pra se juntar à ladainha da cracofantasmalândia.
Recentemente a prefeitura e as construtoras, que irão executar o projeto habitacional no centro, entraram em impasse. Quais os logros dessa revitalização que tantos enchem a boca pra falar? A revitalização vai ficar apenas nas faixadas antigas finalmente despidas das horriveis placas publicitárias?
O centro antigo é um lugar legal. Eu tenho até um roteiro fixo. Desço do trem na estação da Luz, dou um role no mercado municipal e depois, já saindo um pouco do centro, vou nas ruas da zona cerealista. Onde, inclusive, tem a loja matriz da World Wine.
Bem, melhoras pro sr. Bortolloto, que, sim, viu no submundo uma certa fonte de inspiração. Uma espécie de fascínio bandido. Se minha impressão sobre ele não está errada, creio que entendo. Mas há pelo menos dois submundos. Um deles é o dos mortos-vivos da cracolândia. Esse não fascina, só enoja.


Créditos pela foto: Everton Vasconcelos.

Rosso Piceno





"Un soir, l'âme du vin chantait dans les bouteilles:
«Homme, vers toi je pousse, ô cher déshérité,
Sous ma prison de verre et mes cires vermeilles,
Un chant plein de lumière et de fraternité!"


L'Âme du vin, Charles Baudelaire


Sozinho em meu quarto, pela madrugada estudando, eu tenho aquela famosa impressão de estar sendo observado. Olho para o lado, e só vejo minha pequena adega. Estaria algum vinho me chamando em cantiga? Me pedindo para ser libertado da garrafa? Provavelmente não.
Ainda que sem ser chamado, fui ter uma palavrinha com um dos habitantes da minha froids caveaux. O contemplado com a liberdade e escolhido para, grato, perecer em minha garganta foi o Rosso Piceno, Saladini Pilastri, de safra 2007, um dos italianos mais modestos do catálogo da Mistral. O que eu achei de interessante nele é o fato de ser orgânico. Quando comprei não conhecia esse estilo nem o produtor. Vinhos declarados orgânicos ainda são incomuns e isso sempre me chama a atenção.
Rosso Piceno é uma das 13 DOCs de Marche, região situada entre a Emilia-Romagna e a Toscana e Umbria e Adriático. Esse vinho é feito de sangiovese e montepulciano, mas nos vinhos da doc também podem entrar trebiano e passerina.
Logo que abria garrafa provei o vinho na taça. Achei o aroma bem apagado e resolvi passar o vinho para o decanter (o que geralmente me da preguiça, é uma peça a mais pra lavar). Mas não consegui faze-lo se abrir comigo. Paciência, personalidades... Mas ainda puxei uma nota de cedro do aroma.
Um vinho agradável de beber, corpo médio, sem exuberância gustativa mas com certo sabor. Boa acidez e adstringência leve. Álcool equilibradíssimo. Nada mal pra essa madrugada.
Em São Paulo choveu pra burro nesses ultimos dias. Aqui em Santo André não caiu tanta água, pelo menos ela não causou tanto caos (se é que ela pode ser responsabilizada, a cidade por si é um caos). De forma que hoje foi uma ilha de frio dentre os dias de calor que têm feito. Quis aproveita-la com um tinto.
Do meu papo com esse Rosso Piceno não nasceu "poesia que se eleve a Deus como uma rara flor", somente essa mal fadada prosa. Mas também o vinho não é um Premier Cru Classé, ou algo do tipo. Mas, principalmente, eu não sou um Baudelaire, sequer chego perto.

16/09/2009

De volta ao começo












"Where once my wit, perchance, hath shone,
In aid of others' let me shine;
And when, alas! our brains are gone,
What nobler substitute than wine?"


Lord Byron





Como um dia resolvi escrever esse blog (ainda que seja pras paredes) vou, aos trancos e barrancos, levando adiante minha resolução. Escrevi dois textos, no começo do inverno e parei. Agora, no fim do inverno, minha escrita começa a degelar.
Quando comecei a beber vinho como um enófilo, meu interesse caiu sobre os franceses (os supervalorizados franceses). Os vinhos franceses representam um verdadeiro paradigma para a moderna cultura do vinho. Além dos franceses tenho bebido muitos dos emblemáticos vinhos italianos, dos peculiares vinhos portugueses, dos tempranilhosos vinhos espanhois e por aí vai...
Quando descobri que haviam vinhos gregos no mercado brasileiro de importados fiquei ávido para beber o que é feito na terra de Dionísio.
A OPAP (Onomasía Proeléfseos Anotéras Piótitos - Denominação de Origem de Qualidade Superior) Neméa é uma das mais conhecidas da Grécia. O Neméa da Boutari, custa por volta de 40 reáis, importado pela Vinci, achei um vinho bem agradável. Bebi as safras 2004 e 2006. Um tinto alegre, com aromas simples e delicados de frutas vermelhas, muito fácil de beber, um vinho um tanto feminino. Agiorgitiko (St. George) é a uva do Neméa, e é também o nome de outro vinho da Boutari, que também é elaborado nessa mesma região do Peloponeso, também me agradou. Eu ainda não bebi o Grande Réserve Naoussa, que parece ser bem reputado, mas o Naoussa OPAP 2004 não gostei muito, achei um tanto diluido.
Dos brancos bebi o Santorini, outra OPAP, produzido com assyrtiko, gostei demais, só de pensar me da vontade de abrir uma garrafa (o tempo está esquentando). Bebi também o folclórico Retsina, esse da vinícola Gaia, segundo um amigo, enocarcamanófilo desdenhoso, o "Pinho Sol" grego. Esse é com certeza o vinho mais inusitado que já bebi. Talvez beber um retsina seja uma experiência incompleta se for fora da Grécia. A respeito desse tipo de vinho, eu vi que no Decanter World Wine Awards 2009 um tal de "Kechris Winery The Pine's Tear 2008" levou medalha de ouro.
Eu não segui a ordem em relação a brancos e tintos, mas termino com o vinho de sobremesa. Esse Mavrodaphne de Patras é um doce bem interessante, uma ótima opção para acompanhar um "puro".

21/06/2009

Primeiro dia de Inverno

"Era inverno e tu tremavi
sulla neve risplendevi"

A. Pagliuca & A. Tagliapietra (Le Orme)


Esse é o primeiro dia de inverno do ano. E vejam só, o estou recebendo com um tinto. No caso, um justo tinto nacional. O vinho vem se democratizando muito no Brasil nos últimos anos. À heroica industria vinícola nacional ergo um brinde! Hoje, é possível sim, beber um bom vinho tinto nacional, tão bom quanto qualquer bom tinto feito em qualquer lugar do mundo (novo ou velho).
Talvez alguém diga:
- Vinho é bebida de fora, alheia à nossa cultura!
Isso, expressado assim em português, perde em muito o sentido. A verdade é que somos um amálgama de culturas em grande parte estruturado em torno da portuguesa. O principal indício disso é nossa lingua. Além disso, é desnecessário enumerar os traços portugueses na nossa cultura.
Um brasileiro comum tem todo o direito de se tornar um apreciador de vinho. E a grande (e velha) notícia é que ele não precisar ter muita grana. Acredito que com um bom planejamento, um amplo espectro de bolsos possa alcançar um nível muito bom de conhecimento enológico. É claro que não é para qualquer um beber vinhos de regiões importantes in loco, por exemplo (meu próprio caso). Mas ainda assim, com apoio de literatura e tendo produtos acessíveis no mercado é possível adquirir um conhecimento respeitável sobre o mundo do vinho, sem gastar barris de dinheiro. Algumas sifras alcançadas por certos vinhos são assustadoras (o Chateau d`Yquem 1787 foi vendido a US$ 90 000), mas não devem intimidar o enófilo pouco abastado. Tem muito vinho bom de preço acessível. Óbvio que tem limite, para o catador de papel que passa na minha rua ficaria um tanto difícil, mas aí são outros problemas e de soluções monstruosamente mais complicadas. Mas o meu recado, para mim mesmo, é que um durango não está fora de lugar ao pisar no terreno dos vinhos. A mídia vem transmitindo o quanto o consumo de vinho pode ser benéfico. Então não há razão para que o brasileiro mais humilde fuja desse universo por não se achar à altura.
Mas para encurtar, vinho tinto e inverno combinam muito bem. Recentemente, inclusive, um estudo concluiu que a ingestão de vinho (moderada e constante) tem uma ação positiva na libido feminina. Isso é lindo! Vinho e calor feminino, numa noite de inverno! Infelizmente, nessa minha primeira noite de inverno fico apenas com o vinho. Mas deixa pra lá, o inverno só começou.